terça-feira, 27 de dezembro de 2016

História - José Júlio Bettencourt Rodrigues


José Júlio de Bettencourt Rodrigues (1843-1893)


Actividade Pioneira

Maria de Lurdes Pereira Gomes

Devem-se a José Júlio Rodrigues as primeiras fotografias tiradas à luz do magnésio, nos túneis de lava da ilha Terceira, no Açores, em Março de 1891”. Assim faz referência António Sena no seu livro “Uma História de Fotografia”. (Sena p.23)

A par da brilhante carreira académica, J. Rodrigues 1 (1843-1893) ganha um lugar de destaque na história da fotografia.
No papel de responsável da Secção Photographica da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topographicos,  Hidrographicos, e Geológicos dos Reino de 1872 a 1879, tem a seu cargo os serviços de «officina de desenho, gravura, chromo-lithographia, photographia, publicação de cartas, mappas, plantas 2.
Como dirigente da Secção, desenvolveu e aperfeiçoou várias técnicas “na arte da photografia, tendo atenção aos modernos processos de estampagem, a photo-chimica, e com especial referência à pholithopraphia e à heliogravura” (Sena, p.22).
Dos métodos que estudou e desenvolveu salienta-se:
A Photolithopraphia, um “método de impressão pela fotografia do desenho de uma carta sobre pedra” lisa e recorria “a gelatinas bicromatada e atintamento com tintas gordas seguido da revelação da imagem”, (E. Jardim, pp. 6/7) fazendo, depois, a exposição à luz do Sol ou à luz eléctrica. Mais tarde este processo é substituído pela fotozincografia.5 Desta técnica resulta o “fac-simile de desenhos primitivos (…)”. A photolitographia sobre estanho tinha a vantagem de se poder obter dezenas de provas sendo o único método que podia aplicar-se à photolitographia geográfica, qualquer que fosse a dimensão do trabalho final”. (E. Jardim pp. 6/7)
A Heliogravura ou fotogravura tipográfica em relevo era executada sobre placa de cobre com a aplicação de gelatinas bicromatadas e betume da Judeia “que era exposta ao Sol através do cliché ou desenho que se queria gravar6. (E. Jardim p.8) O Betume da Judeia, apesar de se considerar um material simples, revelou-se de grande utilidade para o desenvolvimento da cartografia.
O processo explorado pela Secção, e que dá lugar de destaque a J. Rodrigues no desenvolvimento fotográfico, foi o Caoutchouc que permitia executar ampliações de forma rápida, um método imprescindível à elaboração de mapas.8 Esta técnica conhecida "desde 1860 com Henri Plon, só com Rodrigues é que se tornou uma verdadeira prática”. (E. Jardim p.8) Utilizou igualmente a Cromolitografia na produção de cartas9 e a Cromocuprografia10.(E. Jardim pp.12/14)
Na década de 70, para substituir a gravura à mão da Toponímia, (técnica morosa), começam a utilizar processos tipo-autográficos. (E. Jardim p.15)
Em síntese, graças a José Júlio de Bettencourt Rodrigues, a Secção photográphica foi pioneira nos processos fotomecânicos na elaboração de cartas geográficas como as corográficas, hidrográficas e geológicas. Foi pioneiro na realização da fotografia científica com luz eléctrica, aperfeiçoou processo já existentes e inventou a fototipografia, fotogravura, gravura química, matrizes e estampagens fotolitográficas, a fototipografia, a policromolitografia e pensa-se que terá sido autor da introdução da fototipia ainda antes de C. relvas.
A sua originalidade baseava-se no combinado de tintas gordas e nas propriedades da gelatina bicromatada. O processo mais famoso explorado pela Secção foi o Caoutchouc que permitia executar ampliações de forma rápida, método essencial à elaboração de mapas.
José Júlio Rodrigues foi responsável, numa temporada de 4 anos, de dotar o “seu paiz com processos novos, seus e alheios, importando e fazendo funccionar com promptidão e manifesta utilidade diversas machinas e apparelhos, absolutamente desconhecidos entre nós e ainda hoje pouco vulgarisados no estrangeiro.»”, como anuncia o próprio José Rodrigues no pequeno excerto, em epígrafe, deste e_fólio.


Notas de fim:
1 - J.J. Rodrigues era formado em matemática na Universidade de Coimbra. Foi lente proprietário (1887) da sexta cadeira e de Química Inorgânica da antiga Escola Politécnica de Lisboa.
2 - http://laboratorio-cctp.blogspot.pt/2010/05/os-estudos-realizados-por-jose-julio.html; Em 1872 assume também o cargo de director na fábrica nacional de tinta de impressão.
4A Academia de Ciências instalava-se no Antigo Convento de Jesus em Lisboa.
5Este processo implicava a utilização de pedras planas recobertas com uma camada fina de gelatina bicromatada. Devido à dificuldade em encontar pedra pouco porosas, este processo é abandonado e substituído por folhas de estanho ou zinco.
6A luz que atravessava o cliché e esculpia a imagem na camada fina da gelatina protegendo o metal. A permeabilidade ao coloreto de ferro III não permite alteração nas superfícies e eram atacadas na razão inversa da acção luminosa. A heliogravura com gelatina era técnica escolhida para obras mais delicadas.
7  J.Rodrigues adopta esta estratégia que lhe proporciona maior nitidez e qualidade no detalhe.
8 Este método afirmava a elasticidade. Distendia e contraía como se de uma ampliação e redução se tratasse.Uma folha muito fina não vulcanizada que se colocava numa moldura de lados móveis e obrigava-se, por tracções sucessivas a sua dilatação em todos os sentidos” (Estela J).. O Caoutchouc Uma técnica de excelência para as instituições científicas que permitia a realização de mapas de modo mais simples, rápido e económico que não era possível por outros processos de trabalho.
9É exemplo disso a primeira carta geológica publicada por este método feita em duas metades com 20 cores na escala de 1:500000.
10Técnica que possibilita obter tons da mesma cor através da graduação de coloreto de ferro III sobre placa revestida de pó fino de resina (…)

Bibliografia:
  • SENA, António, Uma História de Fotografia, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1991.
Webgrafia:
·         http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p36.html consultado em 4-11-2014
·         JARDIM, Maria Estela, COSTA, Fernanda Madalena e PERES, Isabel Marília, José Júlio Rodrigues e a sua Contribuição para o Desenvolvimento da Cartografia Portuguesa e dos Processos Fotomecânicos do Século XIX visível em url:
·         JARDIM, Maria Estela, COSTA, Fernanda Madalena, PERES, Isable maria, José Júlio Rodrigues e a  sua contribuição para o desenvolvimento da cartografia portuguesa e dos processos fotomecânicos do séc. XIX, visível em: <URL> http://www.researchgate.net/publication/257403073_JOS_JLIO_RODRIGUES_E_A_SUA_CONTRIBUIO_PARA_O_DESENVOLVIMENTO_DA_CARTOGRAFIA_PORTUGUESA_E_DOS_PROCESSOS_FOTOMECNICOS_DO_SCULO_XIX; (consultado em 04-11-2014)



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