domingo, 18 de fevereiro de 2018

Resende - Freguesia de Barrô

Freguesia de Barrô


Igreja de Santa Maria de Barrô após restauro de conservação



Chegou em pedaços como um puzzle, mas renasceu das cinzas como uma Fenix. Teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas como estas tábuas entalhadas e policromadas que lhes deram o valor sublime do Barroco. Eis alguns pormenores da nossa Igreja depois da recuperação. 

Texto e fotos de Lurdes Pereira
Julho, 2019


















Festa de Agosto

Fotografia de Lurdes Pereira
2019











































Barrô
2019

Lugar do Outeirinho


















Lugar de

















O More Romano – Uma introdução


Entre os séculos XI e inícios do séc. XII multiplicaram-se as pequenas construções românicas, ou seja, uma forma de construir à maneira romana. Este “estilo” entra em Portugal por influência directa da Galiza ou pela importação de mão-de-obra de origem francesa.
O século XI decorava-se de Colunas isentas, de Capiteis pesados, de Arcaturas ao longo das naves (à semelhança de aquedutos romanos), de Abóbadas (efeito de marcação da paisagem rural com muitos mosteiros ou urbana difundindo-se de casario circundante. A pedra era trabalhada, talhada, tratada em vez da alvenaria fazendo rasgar nas fachadas os arcos triunfais de volta perfeita.
Uma das vias de difusão deste género arquitectónico e de escultura exclusivamente ornamentada é a promoção, durante o séc. XI, do Caminho de Santiago ou a grande estrada. França colhe os frutos deste agenciamento religioso e geográfico sagrado. A Galiza, lugar de chegada e o seu campo de estrelas ou Compostela, beneficia desta forma de turismo religioso. O românico é trazido por patrocinadores desejosos de colher os favores de Deus.
Outra via de penetração foi o disciplinamento do ritual imposto pela reforma gregoriana ou reforma romana.
A terceira via de difusão foi a expansão de ordens do novo monasticismo regular que foi uma estratégia reformista de Roma que se manifesta em regimes de clausura universal.
Para as primeiras catedrais restauraram-se dioceses e procede-se à importação de grandes modelos construtivos de França e Itália do Norte.

Os maiores edifícios do Românico Rural apresentam três naves com falso transepto. S. Pedro de Rates, Paços de Ferreira, Tarouca ou Paço de Sousa formam exemplos portugueses onde as absides e absidíolos são abobadadas.
As mais pequenas são de nave única, com cobertura de madeira e capela-mor abobadada. S. Pedro de Roriz, Rio Mau, utilizavam os capitéis da nave, os portais e os tímpanos para nele incluírem apontamentos escultóricos de temas bíblicos ou provenientes da religião profana ou cultura popular.

O triunfo dos símbolos no românico surge por oposição à magreza da representação e da figuração típicas do período moçárabe ou da arte carolíngia. Uma atitude própria de uma cultura rural. É um universo infinito de símbolos extraídos por uns e escondidos por outros a fim de lhes oferecer espessura.
Os níveis de significação para um episódio podem ser várias:
- Sentido literal cujos factos narrados podem ter sentido histórico,
- Sentido tipológico pois que para além do historizado pode também retirar significados e, em termos de imagem, correspondências,
- Sentido anagógico pela correspondência das imagens em ideias,
- Sentido tropológico cujos motivos do tema central do episódio, em abstracto, necessita de interpretação prévia para se desentranhar o mistério de forma a dele extrair lições de moral ou edificantes para o mundo dos homens.

Fontes para esta iconografia
- Livro da Aves, séc. XII, iluminador e calígrafo desconhecido, concebido para uso dos iletrados. Cada ave corresponde a um humor, carácter, comportamento ou vício.
- Testamentum Vetus/ Bíblia de Sta Cruz de Coimbra (BM Porto). As tarjas, cercaduras e margens do pergaminho integram motivos que se observam nos capitéis, tímpanos, ombreiras dos portais românicos. Em termos de desenho, as formas mais representativas são os que dizem respeito às Tábuas de concordância.
Na arquitectura, a porta com arcada semicircular, uma sugestão celestial como na igreja de S. pedro de Ferreira que comporta o primeiro sinal sagrado da Porta do Céu.
No dintel e tímpano dos portais consagram-se símbolos ligados à magia: serpentes, laços, signos, cruzes vazados ou não virados para um mundo laico ou pagão. Outros assumem sentido teológico e evangélico como: Agnos Dei, Cristo em glória, S. Miguel, virados para um mundo “cultivado”.
Uma das formas mais originais que define o More Romano é este contraste com os portais despidos dos templos moçárabes e carolíngios. A organização da fachada e a hierarquização funcional e linguística centrada nos portais e janelões constitui uma das características mais identificadas no More Romano.

Sistematizando o simbolismo destacam-se
- Temas doutrinários – Mitos, cristo e o apostolado, símbolo da peregrinação, narrativas dos mártires, o tema do guarda do limiar,
- Imagem do homem – Ciclos dos vícios e virtudes – ligado ao paganismo com cenas mitológicas, moralistas ou anedóticas
- Imagem da natureza – Monstros e animais
- Escultura devocional – esculturas avulso
Temos como exemplares a Porta sul S. pedro de Rates, S. Cristóvão de Rio Mau, S. Salvador de Bravães.
O ADN do românico é marcado por temas muito comuns, sendo o mais usual o das aves a debicar de significado moralista por se tratar de um ser alado que voa no ar. Normalmente aparecem duas aves para seguir a linhagem do emparelhamento e simetrias. As taças representam os bens celestiais, dons de Deus ou outros significados positivos.

Lurdes Pereira

Para lá chegar consulte o site:
http://www.rotadoromanico.com/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/IgrejadeSantaMariadeBarro.aspx?galeria=Fotografias&regiao=Resende&monumento=Igreja%20de%20Santa%20Maria%20de%20Barr%C3%B4&categoria=&TabNumber=0&valor=/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/IgrejadeSantaMariadeBarro.aspx&guid={56602F4B-2770-484C-B9C8-F8CC103050C3}


Igreja de Barrô Esta belíssima igreja, de um românico tardio, (século XIII), foi classificada como Monumento Nacional em 1922. A torre sineira, nitidamente desfasada, é obra muito posterior, datada do século XVII. O corpo principal da igreja detém um pórtico lateral, de arco apontado, decorado com um alfiz em xadrez, assente em impostas de tímpano cego, bastante parecido com os pórticos principais das igrejas de Almacave; S. Martinho de Mouros e Ermida do Paiva. Tal facto deve resultar da influência e proximidade desses templos bem mais antigos.



Igreja Nossa Senhora da Assunção - sta. Mª de Barrô





Embora possamos remontar ao século XII a fundação da Igreja de Barrô como igreja particular de Egas Moniz (c. 1080-1146), o Aio, que lhe veio às mãos por doação real, nada sabemos sobre o que então se edificou, transformou ou se apenas foi dada continuidade ao culto, praticado, talvez, num templo já existente.
Egas Moniz foi tenente de São Martinho de Mouros, pelo menos, entre os anos de 1106 a 1111 e governador da região de Lamego entre 1113-1117 - e talvez até mais tarde. 
Tendo conseguido afirmar-se politicamente no reino em construção, Egas Moniz, dos de Ribadouro, fez copiosas dádivas a institutos religiosos, sendo de destacar o Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel), onde se fez sepultar. 
É, pois, neste contexto que devemos entender a doação do padroado da Igreja de Barrô feita por D. Sancha Vermudes, nora de Egas Moniz, à Ordem dos Hospitalários, em 1208, conforme nos noticiam as Inquirições Gerais de D. Afonso III (1248-1279) feitas ao concelho e julgado de São Martinho de Mouros, datadas de 1258: quando questionado, Egas Mouro esclareceu os inquiridores que a Igreja de Santa Maria de Barriolo era dos frades hospitalários que apresentavam na dita igreja. E perguntado sobre a obtenção de tal padroado, respondeu que fora da parte de D. Sancha Vermudes. E muitos outros disseram algo semelhante. 
Por outro lado, segundo outro testemunho, o de Pedro Gonçalves, a villa de Barriolo era toda do Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel). Ou seja, cruzavam-se aqui, portanto, vários interesses (igreja e território), embora entre todos houvesse uma ligação comum ao património da linhagem dos Gascões, de onde provinha Egas Moniz, dito o Aio.
Aqui, nas margens do Douro, acreditava-se existirem vestígios de uma ponte mandada executar por uma das régias Mafaldas.  Desta tradição faz eco o vigário José Mendes de Azevedo, referindo os vestígios de pilares em ambas as margens, nomeadamente na oposta freguesia de Barqueiros.
Lurdes Pereira















A Igreja de soslaio e o poente da casa da Comenda







Frontaria da Igreja de Barrô com a fachada da casa da Comenda virada a Sul.
A Casa da Comenda era, no passado o paço da Igreja. Ainda hoje conserva no muro vestigios da passagem directa para a igreja.






A rosácea simples composta por um circulo central abraçada por oito semi-circulos. As arquivoltas exteriores que circundam a rosácea assentam em colunas de fustes simples e capitéis coríntios simplificados com formas vegetativas.


A torre da Igreja, muito posterior contracena no conjunto do românico.






Nicho virado a Sul.

















A porta principal encimada por um dos mais belos exemplares de tímpanos vasados da região.


Casa e Quinta da Comenda em Barrô


Fotos de Lurdes Pereira

Em Portugal, a Ordem de Malta é extinta por diploma de 30 de Junho de 1834 tornando extensível às Ordens Militares o Decreto de 30 de maio do mesmo ano que extinguiu os conventos religiosos e os seus bens foram incorporados na Fazenda Nacional.
São Pedro de Barrô, antiga Barriolu, em documento do ano de 957, (mais antiga referência documental à terra de Barrô) forma um capítulo à parte da história de S. Martinho de Mouros a cujo termo sempre pertenceu, até ser extinto em Outubro de 1855.
Terra de El-Rei, foi doada por D. Afonso Henriques a D. Egas Moniz e seus sucessores, e destes passou à Ordem de S. João do Hospital, vindo a constituir-se uma das mais ricas comendas.
A Comenda de S. João do Hospital de Jerusalém, ou Comenda de Barrô, como vulgarmente era conhecida, surgiu em Barrô no ano de 1208, graças à doação outorgada por Dona Sanches de Vermudes, viúva de Dom Soeiro Viegas e que incluía igualmente o padroado da Igreja.
“… Dom Sueiro Veegas, filho de dom Egas Moniz de Riba do Douro, casou com dona Sancha Vermui, filha de dom Vermuu Pires, que foi irmão de conde de Trastamar e da infante irmã d´el rei dom Afonso, o primeiro e feje em ela dom Vermu Soares e dona Tareja Soares e dom Lourenço Soares…”

in Portugaliae Monumenta Histórica, livros velhos de linhagem.
Notas de Serafim Barbosa


A Quinta da Comenda, bem como a Igreja Matriz de Barrô, pertencera no séc. XII a D. Egas Moniz.
Herdada por seu filho D. Soeiro, a esposa deste, já viúva, doou-a à Ordem Militar de S. João do Hospital, que fora introduzida no reino no princípio do séc. XII.
A Casa da Comenda (hoje totalmente alterada) era o Paço dos comendadores.
De comendadores, tenho notícia de Frei Gaspar Dias da Fonseca que, no ano de 1594, renovou um prazo na quinta do Outeiro, e de D. José de Melo e Tovar Noronha e faro, filho de Luis de melo e macedo, senhor da Casa de Porto de Rei e da de S. Gonçalo da Ribeira e Capitão do regimento de Abrantes, de 1808 a 1814.
Suponho que a quinta foi nacionalizada pelos governos liberais em 1869 e vendida depois em hasta pública a particulares.
Ainda há quem tenha ouvido falar de uns senhores Lacerdas, vindos do Brasil, que reconstruiram a Casa da Comenda tal como hoje se apresenta.

In DUARTE, Joaquim Correia, Resende e a sua história, volume 2: As freguesias, pgs. 146/147

Porém, este ciclo só terminou quando a Santa Casa da Misericórdia vende a propriedade a Joaquim Pinto Cardoso que, por sua vez, vendeu aos actuais titulares do imóvel, Miguel e Ana Saavedra.

A página de internet da Quinta da Comenda de S. Pedro do Sul diz o seguinte:

"HISTORIAL 
A Casa da Quinta da Comenda, era a Casa Mãe da Comenda de Ansemil, que possuía vários Coutos, espalhados pelas Beiras, nomeadamente em Tarouca, Figueira da Foz, Coimbra, Águeda etc... e em S. Pedro do Sul, o Couto da Coja, incluía o que hoje constitui as povoações de Outeiro da Comenda, Lourosa da Comenda, Bodiosa, Mães e Vila Maior, onde, nesta última se situava a tulha da Comenda que recebia os tributos de todos aqueles Coutos. 
Antes da fundação da nossa nacionalidade (1143), Dona Teresa, Mãe do 1º Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, doou a Comenda a seu irmão D. Raimundo que por sua vez, a doou à Ordem de Malta que se tinha acabado de instalar neste canto da Europa, sendo D. Henrique, filho natural de D. Afonso Henriques o seu 1º Grão-Mestre, cujos cavaleiros tanto ajudaram D. Afonso Henriques na reconquista contra os mouros. (…). 
A Ordem de Malta, guerreira e hospitalária, situada na Quinta da Comenda, tratava e albergava cavaleiros que se deslocavam a caminho de Jerusalém, via Ilha de Malta, pela estrada romana que passava pela Quinta da Comenda, atravessando o rio Trouxe pela ponte romana aqui existente, em direcção a Lérida, para sofregarem os lugares sagrados. 
Desde estas remotas datas até à época do Marquês de Pombal pertenceu sempre a Quinta da Comenda à Ordem de Malta até que em 1755 por decreto de expulsão das ordens religiosas, o Marquês de Pombal a ofereceu ao Porteiro-Mor do reino e passou a pertencer a descendentes da coroa até 1958, data em que passou a ser pertença de particulares".


Marinho Borges no seu blogger diz  o seguinte:

"A freguesia de Barrô foi, em 1208, constituída como Comenda a favor da Ordem de S. João do Hospital de Jerusalém (ou de Malta). A Casa (e a Quinta) da Comenda era a sede e o paço onde residiam os comendadores, encarregados de receber os dízimos da freguesia e os rendimentos da comenda, para entrega àquela ordem religiosa militar. Com a extinção desta em 1834, a quinta foi nacionalizada e vendida em hasta pública. Tudo leva a crer que o romance As Meninas da Comenda do P. Dr. Joaquim Correia Duarte se baseia em factos históricos aqui ocorridos, já que a comenda a que alude também foi instituída por D. Sancha Vermudes (nora de D. Egas Moniz)".

Esta quinta foi adquirida há cerca de 30 anos por Miguel Gomes Dinis Saavedra. Com 12 hectares foi totalmente remodelada, produzindo cerca de 35 pipas de vinho do Porto. É aqui referida pelos seus pergaminhos e por ser a maior de Barrô.























As paisagens da quinta











O armazém da quinta onde no passado recebia as comendas.

Porta poente da quinta




Barrô - Lugar da torre

Lagar cavado na rocha

16-09-2017

Fotos de Lurdes Pereira

















Barrô - Alminhas da Calçada Medieval

11-09-2017

Imagens: Lurdes Pereira
Texto: Lurdes Pereira


Barrô. As "Alminhas da Calçada" encontram-se cravadas no muro da Quinta da Comenda, na rua Caçada da Igreja que inicia junto à Igreja Paroquial de Barrô em direcção a Vilar. O conjunto, encimado por uma cruz, contempla um pequeno painel de azulejo policromático com tema de sofrimento das almas do purgatório. No mesmo podemos ler: “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que vamos penando”. Segundo a obra "Resende e a sua história" Vol II, de Joaquim Correia Duarte, as ditas "Alminhas da Calçada" sugerem o convite à oração e esmola, pois  no mesmo conjunto existe um género de altar e sob este, uma espécie de caixa onde se depositariam as esmolas.
Lurdes Pereira



Os painéis de azulejos com as almas do purgatório




Barrô. Na EN 222



Tanque em Vilarinho











Barrô, Pôr do Sol

Fotos de Lurdes Pereira
















25-02-2017
Fotos de Lurdes Pereira








Barrô, Convento
Janeiro de 2018
Fotos de Lurdes Pereira


































Casas em ruinas





Janelas que marcam uma época




Tanque no lugar do convento