terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Lamego - Avenida e Praça

Avenida das 4 estações e Praça

2019
Fotografia - Lurdes Pereira











2018
Fotografia - Lurdes Pereira













Peso da Régua - Mónica Baldaque


Douro, espelho da memória


Texto e fotos de Lurdes Pereira


Filha das narrativas literárias, Mónica Baldaque comunica por duas linguagens que se complementam, a literatura e a pintura/desenho. A temática debruça-se nas varandas do Douro, nas suas encostas, nos seus rendilhados e no firmamento de corredores bordados em bainhas abertas.
Com sentimentos enraizados no Douro, o regresso de Mónica Baldaque acontece no Auditório Municipal do Peso da Régua. Uma exposição de pintura onde a paisagem é “pessoa” e tema das memórias registadas nas suas telas. Com singular poesia das cores, representa os socalcos onde “caminhava devagar, descalça, pelos bardos da terra quente” agasalhada pelo manto de leves neblinas, agarrando “A raiz vermelha do amor”.* 



Não se cansa “de pintar a terra do Douro”, faz da cêpa o seu ex-libris, e do serpentear crescimento, uma pincelada livre e singela.

Um traço quase ingénuo, como que visto aos olhos da sublime inocência, imprime, talvez, alguns resquícios de saudade. O seu mundo inesgotável de ideias é um testemunho do amor pelas paisagens imersas da identidade duriense. 





A narrativa desperta o sonho, o sonho de criança que, com o decorrer dos anos, guardou e adensou dentro de si. A terra mãe é doce e genuína. Nela entregou os seus sentidos, nela aprendeu o suave canto das aves, nela partilhou o riso rubi das romãs. O leque parece assumir uma forma de expressão misteriosa e romântica a contracenar a corrente realista. E no seu “olhar a memória” a panorâmica desenvolve um clima tímido, um clima de mistério e incerteza, aquele enigma devolvido a um público que tenha a sensibilidade e capacidade para ler, pinceladas soltas, nas esquinas pregueadas do xisto.


*Título de uma das obras literárias de Mónica Baldaque


Foto: Audir

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Lamego - Rota da Vindima


Rota das vindimas pelo Vale de Abraão

Texto de Lurdes Pereira
Fotos de Lurdes Pereira e Nelson Rosário

Domingo, 23 de Setembro, mês em que a região do Douro começa o ritual das vindimas. O quadro é, sem dúvida, o mais importante nas terras do Vinho Fino. Para comemorar a efeméride, a secção de pedestrianismo, Ténis Clube de Lamego, organizou a Rota das Vindimas pelas terras imortalizadas no romance de Agustina Bessa Luís, com palco na Quinta do Vale de Abraão, em Samodães, um texto que em muito agradou as películas de Manoel de Oliveira.


O Relógio da Igreja suou as 9 da manhã quando as primeiras badaladas do sino anunciavam a Eucaristia. Domingo é dia de missa, e a esta hora, os socalcos estão bem mais desertos. Os caminheiros começaram a chegar e a ultrapassar uma centena de participantes para esta caminhada pelo Vale encantado.
A “marcha” iniciou em Samodães, Lamego, numa descida em que todos os Santos ajudam, já que é Domingo.


Os caminhos milenares, asseados, contam histórias em cada recanto. Num lugar ou outro, encontram-se vestígios de outras épocas a contrastar com alguns pormenores da actualidade. As casas brasonadas, lagares inactivos, solares de condes, alminhas, casas com pormenores de ardósia deixam testemunhos, sem réstia de dúvidas, num presente onde quase tudo se recupera mantendo a fidelidade da sua nobre história. O registo fotográfico é exemplo disso, mas não deixou escapar os pormenores pitorescos destas paragens.






Aqui apreciam-se as paisagens infinitas que buscam nome no rio que as acaricia, aqui aprecia-se a magnânima tela de socalcos a suportar o serpenteado da viagem das videiras, aqui apreciam-se cenários esculpidos para o nobre vinho tão fino que preenche a alma, aqui se apreciam palácios onde os sonhos contam histórias de famílias que lapidaram o nome na pedra de granito.
Todo o conjunto é deslumbrante, o rio corre sereno levando consigo reflexos das suas margens.




Foto Nelson Rosário















 






















































 






À Chegada ao Vale de Abraão a Sra. Presidente da Junta de Samodães fez as honras aos caminheiros com o famoso Vinho Fino arrancado destas terras de xisto.
O momento de descanso despertou o olhar naquele lugar mágico. Era impossível ficar indiferente! O paraíso do Vale de Abrão aconchega um palácio tão belo e imponente, de vistas privilegiadas cuja tranquilidade faz entender o seu nome “Six Senses”. Tão extraordinária esta arquitectura que não sossegou Agustina Bessa-Luís nem a transcodificação semiótica do romance ao filme de Manoel de Oliveira.




Daqui se iniciou a subida do vale, sempre com o olhar de soslaio para reflectir no que se deixou para trás. Entre folhas, uma mão segura um cacho enquanto a outra, munida de tesoura, corta o seu pé e envia para um lagar ou adega, nas baldetas ou gamelas que os homens vão transportando, em ombros, com ajuda de uma “trouxa”.


 Foto Nelson Rosário




Não fosse a simpatia dos residentes a abrir as suas adegas e dar a provar o néctar da região, não haveria mais Santos para ajudar aquela subida até à Junta de Freguesia de Samodães, lugar onde nos esperava um porco no espeto e o Grupo de Bombos de Samodães a saudar os visitantes.