sábado, 31 de março de 2018

quarta-feira, 14 de março de 2018

Lamego, Lazarim, CIMI


A Máscara Ibérica 
CIMI em Lazarim

2018
Fotografia: Lurdes Pereira
























Diabos, caretos e senhorinhas,

singularidades do Entrudo mais típico do Douro

Texto: Lurdes Pereira
Fotos: Lurdes Pereira

Já se adivinha, pela aragem do tempo, a azáfama das festas profanas de origem medieval. Nesta quadra, o calendário anuncia o cartaz da brincadeira, da farra, da folia, da pândega num período que precede a quaresma, o Entrudo muito apelidado, entre nós, por Carnaval.
Por todo o lado se brinca ao carnaval, se promovem desfiles e se dinamizam as terras ao gosto local.

Lazarim, freguesia de Lamego, podia ser mais uma entre muitas vilas de Portugal, mas há uma tradição que não só a retira do anonimato como a transforma numa das vilas mais singulares graças tradição a que está associada. Lazarim é um epicentro de tradição secular.
Faça sol, nevoeiro, vento, frio ou chuva, a população sai à rua metamorfoseada de novas identidades, de máscaras de madeira artesanais, de fatos de palha, peles de animais. A vila transforma-se num palco de ar livre onde todas as peripécias, aliadas à tradição, adensam o espírito carnavalesco numa desordem total.

Quem vem ao carnaval de Lazarim, vem admirar tradições, e para quem visita a vila fora desta quadra, o Centro Interpretativo da Máscara Ibérica (CIMI) tornou-se paragem obrigatória para, neste núcleo mais recatado, ter a oportunidade de fazer uma interpretação de toda a história do entrudo Lazariense/Ibérico. Uma joia guardiã e testemunha das tradições carnavalescas mais genuínas de Portugal. Este Centro surge com o objectivo de investigação e referência Europeia no estudo e valorização do património cultural, que tem como temática a máscara. Criaram, através da criação do CIMI, um elo de ligação entre a história e a arte, entre a memória e a valorização entre a tradição e a continuidade.

Tendo como temática “A Máscara”, no seu interior podem-se observar belos exemplares vindos um pouco de toda a Península Ibérica.
As máscaras de Lazarim, esculpidas em madeira de amieiro, são um atrativo e provocam admiração nos olhares do público. São um excesso de originalidade onde a naturalidade da cor marca a diferença entre as demais com fisionomias de criaturas tão originais quanto estranhas. Os caretos resumem a sua essência numa magnífica obra de arte saída dos formões e navalhas de artesãos, que nem por isso escondem a sua originalidade e inspiração tão satírica quanto cómica. Não é por acaso que estes engenhos, esculpidos para oferecer uma nova identidade a quem a enverga, sejam tão cobiçados por colecionadores e público em geral.

O ponto alto do evento é caracterizado pelos caretos num cortejo etnográfico e pela leitura dos testamentos protagonizados por dois grupos rivais de raparigas e rapazes nos quais espelham as vivências clandestinas daquela época confrontada com as autoridades institucional e religiosa vigentes. As raparigas têm como missão ler o “testamento da burra” aos rapazes que lhes respondem com o “testamento do burro”. Têm como suporte o uso de palavrões, cujo sarcástico, jucoso e vernáculo serve para classificar a linguagem das quadras rimadas, numa espécie de guerra entre os sexos opostos. Trata-se de um género de batalha ou de um cantar ao desafio ou festival de má-língua num ritual pagão que terá sido aproveitado para uma regeneração espiritual da comunidade onde o burro e a burra serve de paralelismo para acentuar a metáfora de vertente sexual.

Se não é fã da confusão, pode visitar o carnaval e apreciar de perto a máscara ibérica num ambiente mais calmo, num lugar onde residentes, estudiosos e académicos se sentem atraídos e, muitos deles repetentes ao Carnaval dos diabos, demónios, caretos e das senhorinhas, no Entrudo mais típico do Douro.

Lamego, Rota do Entrudo


Rota do Entrudo
Lazarim-Mazes


8-02-2018
Fotografia: Lurdes Pereira