José Júlio de Bettencourt
Rodrigues (1843-1893)
Actividade Pioneira
Maria de
Lurdes Pereira Gomes
“Devem-se a José Júlio Rodrigues as primeiras fotografias tiradas à luz
do magnésio, nos túneis de lava da ilha Terceira, no Açores, em Março de 1891”.
Assim faz referência António Sena no seu livro “Uma História de Fotografia”. (Sena
p.23)
A par da brilhante carreira
académica, J. Rodrigues 1 (1843-1893) ganha um lugar de destaque na
história da fotografia.
No papel de responsável da Secção Photographica da
Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topographicos, Hidrographicos, e Geológicos dos Reino de 1872 a 1879, “tem a seu cargo os serviços de «officina de desenho, gravura,
chromo-lithographia, photographia, publicação de cartas, mappas, plantas 2.
Como
dirigente da Secção, desenvolveu e aperfeiçoou várias técnicas “na arte da photografia, tendo atenção aos
modernos processos de estampagem, a photo-chimica, e com especial referência à
pholithopraphia e à heliogravura” (Sena, p.22).
Dos
métodos que estudou e desenvolveu salienta-se:
A Photolithopraphia, um “método de impressão pela fotografia do
desenho de uma carta sobre pedra” lisa e recorria “a gelatinas bicromatada e atintamento com tintas gordas seguido da
revelação da imagem”, (E. Jardim, pp. 6/7) fazendo, depois, a exposição à
luz do Sol ou à luz eléctrica. Mais tarde este processo é substituído pela fotozincografia.5
Desta técnica resulta o “fac-simile de
desenhos primitivos (…)”. “A
photolitographia sobre estanho tinha a vantagem de se poder obter dezenas de
provas sendo o único método que podia aplicar-se à photolitographia
geográfica, qualquer que fosse a dimensão do trabalho final”. (E. Jardim
pp. 6/7)
A
Heliogravura ou fotogravura tipográfica em relevo era executada sobre
placa de cobre com a aplicação de gelatinas bicromatadas e betume da Judeia “que era exposta ao Sol através do cliché ou
desenho que se queria gravar”6. (E. Jardim p.8) O Betume da
Judeia, apesar de se considerar um material simples, revelou-se de grande
utilidade para o desenvolvimento da cartografia.
O
processo explorado pela Secção, e
que dá lugar de destaque a J. Rodrigues no desenvolvimento fotográfico, foi o Caoutchouc que permitia executar
ampliações de forma rápida, um método imprescindível à elaboração de mapas.8
Esta técnica conhecida "desde 1860
com Henri Plon, só com Rodrigues é que se tornou uma verdadeira prática”. (E.
Jardim p.8) Utilizou igualmente a Cromolitografia na produção de cartas9
e a Cromocuprografia10.(E.
Jardim pp.12/14)
Na
década de 70, para substituir a gravura à mão da Toponímia, (técnica morosa),
começam a utilizar processos tipo-autográficos. (E. Jardim p.15)
Em
síntese, graças a José Júlio de Bettencourt Rodrigues, a Secção photográphica foi pioneira nos
processos fotomecânicos na elaboração de cartas geográficas como as
corográficas, hidrográficas e geológicas. Foi pioneiro na realização da
fotografia científica com luz eléctrica, aperfeiçoou processo já existentes e
inventou a fototipografia, fotogravura, gravura química, matrizes e
estampagens fotolitográficas, a fototipografia, a policromolitografia e
pensa-se que terá sido autor da introdução da fototipia ainda antes de C.
relvas.
A
sua originalidade baseava-se no combinado de tintas gordas e nas propriedades
da gelatina bicromatada. O processo mais famoso explorado pela Secção foi o Caoutchouc que permitia executar
ampliações de forma rápida, método essencial à elaboração de mapas.
José Júlio Rodrigues foi
responsável, numa temporada de 4 anos, de dotar o “seu
paiz com processos novos, seus e alheios, importando e fazendo funccionar com
promptidão e manifesta utilidade diversas machinas e apparelhos, absolutamente
desconhecidos entre nós e ainda hoje pouco vulgarisados no estrangeiro.»”, como anuncia o próprio José
Rodrigues no pequeno excerto, em epígrafe, deste e_fólio.
Notas de fim:
1 - J.J.
Rodrigues era formado em matemática na Universidade de Coimbra. Foi lente
proprietário (1887) da sexta cadeira e de Química Inorgânica da antiga Escola
Politécnica de Lisboa.
4 – A
Academia de Ciências instalava-se no Antigo Convento de Jesus em Lisboa.
5 – Este processo implicava a
utilização de pedras planas recobertas com uma camada fina de gelatina
bicromatada. Devido à dificuldade em encontar pedra pouco porosas, este
processo é abandonado e substituído por folhas de estanho ou zinco.
6 – A luz que atravessava o cliché e
esculpia a imagem na camada fina da gelatina protegendo o metal. A
permeabilidade ao coloreto de ferro III não permite alteração nas superfícies
e eram atacadas na razão inversa da
acção luminosa. A heliogravura com gelatina era técnica escolhida para
obras mais delicadas.
7 – J.Rodrigues adopta
esta estratégia que lhe proporciona
maior nitidez e qualidade no detalhe.
8 – Este método afirmava a elasticidade. Distendia e contraía
como se de uma ampliação e redução se tratasse. “Uma folha muito fina não
vulcanizada que se colocava numa moldura de lados móveis e obrigava-se, por
tracções sucessivas a sua dilatação em todos os sentidos” (Estela J)..
O Caoutchouc Uma técnica de excelência para as instituições
científicas que permitia a realização de mapas de modo mais simples, rápido e
económico que não era possível por outros processos de trabalho.
9 – É exemplo disso a primeira carta
geológica publicada por este método feita em duas metades com 20 cores na
escala de 1:500000.
10 – Técnica que possibilita obter tons
da mesma cor através da graduação de coloreto de ferro III sobre placa
revestida de pó fino de resina (…)
Bibliografia:
- SENA,
António, Uma História de Fotografia, Lisboa, Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, 1991.
Webgrafia:
·
JARDIM, Maria Estela, COSTA, Fernanda
Madalena e PERES, Isabel Marília, José Júlio Rodrigues e a sua Contribuição
para o Desenvolvimento da Cartografia Portuguesa e dos Processos Fotomecânicos
do Século XIX visível em url: