quarta-feira, 7 de março de 2018

Lamego - Ferreirim

Mosteiro/Convento de Ferreirim

2018

Fotos: Lurdes Pereira



















Os Milhos de Ferreirim 


A tradição cumpriu-se, fomos “Comer os Milhos”!


Texto e Fotos de Lurdes Pereira
Fevereiro de 2018






Movidos pela vontade da Salvaguarda de uma tradição que vem de longe, o Centro Recreativo e Cultural de Ferreirim promoveu, no passado dia 25 de Fevereiro, o evento “Comer os Milhos”.

Há tradições que não se perdem e ainda bem, elas sobrevivem aqui e ali de mãos dadas com a evolução, em lugares onde ainda ecoam memórias de saudade.

Manter uma tradição é recuar no tempo, é reconstruir com dignidade uma história que faz parte do povo e de uma época. Memórias que se perdem na evolução, na diáspora, mas que a oralidade ou a escrita é voz escutada por um público que ascende com agrado e. agora, vem dar uma nova cor a essas imagens sépia e descoloradas pelo passar do tempo.

Os milhos, paínços para algumas geografias serranas, remontam épocas menos abundantes e, portanto, surgem pela necessidade de criar os filhos, alimentar a família e matar a fome com o pouco que se as mãos grossas arrancam da terra.

O pão era um alimento muito caro e nem todos eram ricos. Os milhos tiveram um berço pobre, mas o novo quadro preenche-se com abundância e riqueza nos ingredientes. Com calma, porque a glória dos tempos das vacas gordas também desperta o pecado da gula!

O tempo está óptimo! Um prato, um talher, um copo, não esquecendo algum “milho” no bolso. E assim foi! A meio da manhã os pratos daqueles que se inscreveram para saborear esta iguaria vão reservando o lugar na mesa enquanto algo de extraordinário acontece na cozinha ao ar livre. Há uma azáfama entre a grande clareira que lambareia os potes de ferro, como antigamente. Os homens tratam da fogueira e do refogado das carnes de vinha d`alhos e dos famosos fumeiros da terra. Há lenha a queimar para juntar à grande fogueira e para aconchegar os potes. E, assim, manualmente conseguem fazer a magia entre o lume brando para cozinhar lentamente ou apressar a cozedura incidindo no volume de fogo entre os mesmos.

As mulheres preparam os grelos, muitos grelos!. Depois a massa meada para aqueles que não apreciam esta farinha ou não tiveram escola para aprender a gostar. Cortam-se fumeiros para acrescentar nas carnes que já levam algum tempo de cozedura. E mexem, mexem com uma colherona de pau. Naquele círculo mágico de potes adensam-se vapores que deixam viajar os ecos até ao sistema olfactivo daqueles que reconhecem o perfume dos viveres de antigamente, dos porcos caseiros criados a lavagem, macãs e verduras da horta, numa época em que não se imaginava o odor dos aditivos químicos que abundam a actualidade.

Entretanto, músicos vão-se aproximando e alegrando a malta com músicas populares e desgarradas. Violas, serras, bombos, concertinas, organetos são alguns dos instrumentos a fazer a festa, com muita conversa, fotografia e alegria à mistura.

De carro, de mota ou a pé, o aglomerar de pessoas é já uma romaria que tem os milhos como anfitrião.

Chegou a hora de adicionar os grelos, os fumeiros, o sal e, finalmente, os “milhos”. Entre a farinha de milho e o farelo, “os milhos” é uma farinha moída com o calibre específico a passar no “tarugo”.

Estão todos à mesa, casa cheia. Um mar de gente encheu o pavilhão desportivo onde todos comeram como numa grande boda com um número de convidados avultado. Cerca de 1500 pessoas estiveram presentes neste evento que encheu a alma a todos aqueles que, no Centro Recreativo e Cultural estiveram a afirmar a tradição de um petisco que atravessou gerações, os milhos de Ferreirim. E, os “olhares da serra” também agradecem a oportunidade de conhecer e de “Comer os Milhos”.






















































Ferreirim - Mós
Fotos de Lurdes Pereira
Fevereiro de 2018










Sem comentários:

Enviar um comentário