quarta-feira, 7 de março de 2018

Lamego, Aldeia mágica de Anta

Aldeia Anta, 

uma pérola ao abandono

7-10-2017

imagens: lurdes pereira


As Aldeias

Eu gosto das aldeias socegadas, 
Com seu aspecto calmo e pastoril, 
Erguidas nas collinas azuladas - 
Mais frescas que as manhãs finas d'Abril. 

Levanta a alma ás cousas visionarias 
A doce paz das suas eminencias, 
E apraz-nos, pelas ruas solitarias, 
Ver crescer as inuteis florescencias. 

Pelas tardes das eiras - como eu gosto 
Sentir a sua vida activa e sã! 
Vel-as na luz dolente do sol posto, 
E nas suaves tintas da manhã! 

As creanças do campo, ao amoroso 
Calor do dia, folgam seminuas; 
E exala-se um sabor mysterioso 
D'a agreste solidão das suas ruas! 

Alegram as paysagens as creanças, 
Mais cheias de murmurios do que um ninho, 
E elevam-nos ás cousas simples, mansas, 
Ao fundo, as brancas velas d'um moinho. 

Pelas noutes d'estio ouvem-se os rallos 
Zunirem suas notas sibilantes, 
E mistura-se o uivar dos cães distantes 
Com o canto metallico dos gallos... 

António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'





Anta – aldeia monumento

Texto: LurdesPereira
Fotos: Lurdes Pereira 

Tal como a designação, imaginamos Anta um monumento. E não está muito longe da verdade, porque Anta é um conjunto de pequenos monumentos que foram palco da história dos nossos antepassados.
A aldeia de Anta, ou Anta de Mazes, continua a insistir na beleza daquela montanha mágica, embora não seja habitada desde a década de 60 do século XX.
Salvo alguns curiosos que têm por hábito ir à descoberta, são os grupos de caminheiros que têm em agenda percursos que conseguem deslumbrar o olhar de todos os participantes, devido à beleza do património paisagístico local, para além de dar a conhecer a história ancestral à qual está inerente.
A subida inicia em Lazarim, um estradão em terra batida e gravilha grossa que se vai soltando do chão. Esquecendo os passos, vamos imaginando a Anta como um monumento de pedra, mas os olhares que se perdem nos horizontes transformam todas as pedras em monumentos. E são estes pequenos e grandes monumentos que, abraçados pela vegetação arbusteira, bordam os folhos das saias da cordilheira de Montemuro. Até que se chega, sem qualquer margem para enganos, àquela aldeia abandonada. É um pequeno mundo à parte da realidade da evolução dos tempos. É uma viagem ao passado! É um sonho pisar este espaço cénico com panoagens rastejantes a acariciar cada pedra destas paredes.
Mágica! Um monumento construído com tantos pequenos monumentos que a natureza ofertou e que o homem acartou e amontoou para se acolher.
Entrar nestas habitações é recuar no tempo imaginando as casas tão rústicas protegidas pelos telhados de colmo. Para quem não sabe, o colmo era uma espécie de palha impermeável para a chuva e mais quente para os rigorosos e agrestes invernos que se
faziam sentir no topo da montanha. Hoje, este telhado típico nas zonas montanhosas, encontra-se nos mapas das coisas raras. Resultado da evolução!
Tudo tão pitoresco, tão autêntico! Parece que algumas nascem da profundidade das rochas como as nascentes de água. De beleza enigualável, admiramos e voltamos a admirar, um aglomerado que casinhas pequeninas, uma aldeia tipicamente portuguesa bordada nos mantos verdes da cordilheira. Toda costurada com as linhas e cores do tempo e dos anos agrestes que os olhares da serra aqui resistiram. Já se contempla algum cuidado de preservação. No entanto, algumas têm intervenções, que mesmo fora do contexto da época, têm por finalidade não deixar perder um património que serviu o tempo dos nossos avós.
A sua beleza intemporal não foi o suficiente para evitar o abandono. Se ali viveu muita gente, ali se reduziram à raridade da transumância até se transformar num quadro onde o silêncio e as horas do dia são companheiras porque a evolução da sociedade iluminou os caminhos na procura de novas geografias, evitando assim, o isolamento destas famílias.
Foram todos embora. Cada habitante deixou aqui um património, um “livro” que poderia contar a verdadeira história desta aldeia mágica, desta aldeia-monumento!






































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