terça-feira, 3 de setembro de 2019

etc & Tal - 38ª Festival de folclore em S, Pedro de Paus

Partilha de tradições, o espelho de saudade


Texto e fotos de Lurdes Pereira
Festival a 4 de Agosto
Reportagem a 1 de Setembro de 2019


Membro efectivo da Federação de Folclore Português desde 1980, o Grupo Folclórico e Etnográfico de S. Pedro de Paus voltou, pela 38ª vez, a ser anfitrião e palco de mais um Festival Internacional de Folclore. A tarde de 4 de Agosto foi uma agradável ode ao modo de vida do Portugal no séc. XIX. Entre o popular e o mais erudito, entre geografias mais abastadas e as mais vulneráveis, o objectivo é a partilha de memórias do Portugal profundo que contrastam com outras histórias, outras culturas, outras economias em tempos que, mesmo difíceis, são recordados com saudade.












Enraizados na cultura da sua região, o Grupo etnográfico de São Pedro de Paus mantém viva a memória de outrora numa época distante da Revolução Industrial. Numa encosta de parcos recursos, o modo de vida assim determinava o pequeno guarda-roupa ao longo do séc. XIX. Mas na história da “moda”, os Trajes de casamento, domingueiros, romaria, serranos de Montemuro, pastores em dia de chuva, podadores e vindimadores do Douro, Barqueiros de Barcos Rabelos, fidalgos de Brasão, trabalhadores do campo, negociantes das feiras e rogadores das vindimas têm um carácter histórico-museológico de valiosíssima importância na identidade deste povo implantado no manto verde de Montemuro, encostadinho às nuvens do céu.
Uma outra particularidade de relevo que o grupo tende manter é a pluralidade dos ofícios artesanais como Olaria Negra, a cestaria, chapelaria e tecelagem. Como forma de homenagem, uma silhueta de forma humana representou, durante todo o evento, a memória do último oleiro de Fazamões, o saudoso Mestre Joaquim a moldar as panelas de barro na roda baixa. Todo o artesanato caiu em desuso, mas a prioridade do Grupo Folclórico e Etnográfico de S. Pedro de Paus é ser um veículo vivo de persistência na divulgação da sua história e na preservação da sua “lenda”.






























Para além do grupo anfitrião, participaram vários grupos de folclore nacionais e estrangeiros. O Grupo Ballet Cultural Argentino, Grupo Folclórico de S. Cosme de Gondomar, Rancho Etnográfico de Santa Maria de Negrelos, Grupo folclórico da Casa do Povo de Recarei, e o Grupo folclórico de danças e cantares de alvarães ensoalharam-nos a tarde de 4 de Agosto com a tradição no plural.
A contrastar com a vertente de carácter folclórico que nos é familiar, o Grupo Ballet Cultural Argentino ofereceu um palco rico de novidades e tradições. Entre a expressão corporal mais popular e a mais erudita, o Grupo de Ballet relembra o berço do Tango Argentino, e fazendo jus aos tradicionais acordes, os bailarinos transmitiram a alma do tango com profunda sedução. Se as coreografias bailam a alegria ou a tristeza, não se sabe ao certo. Parece um fado, um fado de sentimentos tão intensos a caracterizar o tango como uma das danças mais populares do mundo.












O sucesso do Grupo Folclórico de S. Cosme de Gondomar passou pela coragem e motivação de fazer renascer histórias e lendas dos antepassados. A recolha do Património Etnográfico, danças e cantares foram motivos que despertaram o ensaio e a fundação do grupo, nos finais dos anos 50. As danças mais emblemáticas são as chulas, os malhões, a tirana, o verdegar e os viras. A rusga é também uma moda que as gentes de Gondomar destacam pela memória dos tempos em que iam para as romarias a cantar e a dançar enquanto faziam a caminhada.































 

No intuito de preservar, dar continuidade aos usos e costumes locais, foi fundado em 1991 o Rancho Etnográfico de Santa Maria de Negrelos, de Santo Tirso. No mesmo âmbito, o Grupo folclórico da Casa do Povo de Recarei existe desde 1984 na tentativa de que os seus usos e costumes permaneçam a contar as suas histórias às gerações vindouras. Já o Grupo folclórico de Danças e Cantares de Alvarães, formado em 1968, tem uma origem de índole jovem, mas deveras interessante. Nasce de um grupo de rapazes e raparigas que se juntavam depois do trabalho do campo e ensaiavam passos de dança.
Pode a plateia ser fiel à etnografia da sua origem, pode até sentir afinidade com outras psicologias do vestir, pode sentir-se atraído pela beleza de um tarje mais rico porque o gosto é uma disciplina que se aprende com a cultura. Todos os grupos têm características comuns: guardam histórias, preservam tradições, imortalizam saberes, dançam na roda como um cálice delicado a brindar à cultura e à história da humanidade.

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