quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Resende-Convento - etc&tal

Olhares da Serra

A bela adormecida

Texto e fotos de Lurdes Pereira

Rendida aos assaltos da natureza, o convento de Barrô ainda reserva, na sua índole, a jóia de uma história de fé, outrora mantida por donzelas que escolheram servir a Deus. O convento de Jesus Maria José, séc. XVII, bem como a sua imponente igreja, está implantado em Barrô num lugar onde Marquês de Pombal colocou o marco fronteiriço da região demarcada do vinho generoso. Barrô é também o limite do concelho, Resende, que lhe oferece o nome e a fama ilustre da cereja, e onde as terras se escoam entre o céu, os olhares da serra, e o rio Douro.
Terra da boa cereja e tantas outras iguarias, Barrô enriquece o lugar e as suas gentes na geografia do românico. Contudo, ainda que fora desta rota, a aldeia mantém uma jóia adormecida, o Convento de Jesus Maria José do Séc. XVII, que me recuso ignorar.
Mariana Madre Deus era órfã de pai, e por sua vontade convence a sua mãe a fazer da casa e quinta um epicentro de recolha de donzelas.
Em 1834, com a extinção das instituições religiosas, o imóvel de Barrô, então pertença ao convento das Chagas, foi confiscado pelo Estado e vendido em hasta pública, sendo reconstruído e adaptado num colégio para meninas.
Depois de passar sob o arco deparamos com as tábuas velhinhas e resistentes ao tempo da porta sul, coroada por um nicho dedicado talvez a S. José, que dá acesso ao majestoso hall onde se regista o ritmado desgaste das pedras de cantaria a segredar silêncios de quem por lá passou.
A natureza avança lentamente avivando o sabor às silvas e outras espécies que se sobrepõem à imponência de um espaço que conserva ainda, na sua índole, os detalhes da pedra talhada.
Contígua ao convento, a maior igreja do concelho, foi mandada construir por Mariana Madre Deus, que viria a ser Abadessa. Faleceu com fama de santa, a 1 de Janeiro de 1693 e foi sepultada num túmulo embutido na parede da igreja do Convento, onde muitos fieis ainda lhe prestam a merecida homenagem. A porta lateral, coroada por um oratório, está ladeada com a beleza de pedras talhadas com volutas simétricas e encimada por uma cruz.
Ainda deve haver quem se lembre do velhinho órgão que silenciou para sempre e jaz lá no alto num estado gritante de abandono, ou do coro das freiras onde resta uma porta a marcar a sua memória. Contudo, a igreja apesar de um dia abandonada e em ruínas, foi alvo de restauro continuando a desempenhar o papel para o qual foi erguida.
Há um silêncio que me atrai neste recinto tão belo que há tantos anos espera o elixir da juventude. Juventude sim, pois não faltam ideias para devolver a este espaço a dignidade merecida. Hoje, as modestas inquilinas habitam com alegria o grande imóvel de Barrô envergando nas suas penas e no seu canto melancólico o nobre papel de dinamizar o sono das pedras onde outrora marcaram um lugar de culto.













































































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