Fotografia - Lurdes Pereira
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Peso da Régua - Mónica Baldaque
Douro, espelho da memória
Texto e fotos de Lurdes Pereira
Filha das
narrativas literárias, Mónica Baldaque comunica por duas linguagens que se
complementam, a literatura e a pintura/desenho. A temática debruça-se nas
varandas do Douro, nas suas encostas, nos seus rendilhados e no firmamento de
corredores bordados em bainhas abertas.
Com sentimentos enraizados no Douro,
o regresso de Mónica Baldaque acontece no Auditório Municipal do Peso da Régua.
Uma exposição de pintura onde a paisagem é “pessoa” e tema das memórias
registadas nas suas telas. Com singular poesia das cores, representa os
socalcos onde “caminhava devagar,
descalça, pelos bardos da terra quente” agasalhada pelo manto de leves neblinas,
agarrando “A raiz vermelha do amor”.*
Não se cansa “de pintar a terra do Douro”, faz da cêpa o seu ex-libris, e do serpentear crescimento, uma pincelada livre e singela.
Um traço
quase ingénuo, como que visto aos olhos da sublime inocência, imprime, talvez, alguns
resquícios de saudade. O seu mundo inesgotável de ideias é um testemunho do
amor pelas paisagens imersas da identidade duriense.
A narrativa desperta o sonho, o
sonho de criança que, com o decorrer dos anos, guardou e adensou dentro de si.
A terra mãe é doce e genuína. Nela entregou os seus sentidos, nela aprendeu o suave
canto das aves, nela partilhou o riso rubi das romãs. O leque parece assumir uma forma de expressão misteriosa e romântica a
contracenar a corrente realista. E no seu “olhar a memória” a panorâmica
desenvolve um clima tímido, um clima de mistério e incerteza, aquele enigma
devolvido a um público que tenha a sensibilidade e capacidade para ler,
pinceladas soltas, nas esquinas pregueadas do xisto.
*Título de
uma das obras literárias de Mónica Baldaque
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