Festival de folclore, uma partilha de identidades
Texto e fotos – Lurdes Pereira
Agosto, o Sol queima e o ar está
abafado. No entanto, a tarde escaldante não deixou anular o evento da
etnografia local, nacional e internacional, o XXXVII Festival Internacional de
Folclore organizado pelo Rancho em S. Pedro de Paus, filiado desde 1980.
Chegou a hora do desfile. Logo em
primeiro lugar, o grupo da casa, Grupo Folclórico e etnográfico de S. Pedro de
Paus (Resende), seguidos de outros grupos convidados nacionais e internacionais
– Grupo de Danças e cantares de Vermil (Guimarães), Tradicional Songs and
Dances Ensamble Kuzelovjan (República Checa), Rancho Folclórico de Nogueira
(Lousada), Grupo Folclórico de S. Martinho do Campo (Santo Tirso), Folklorni
Ansambl “Koprivnica” (Croácia).
Depois do desfile, fez-se silêncio ao
som da viola e da guitarra pelas mãos de Osvaldo Magalhães e Joaquim Ribeiro em
“uma homenagem a
todos os elementos que participaram neste rancho, e que, infelizmente, já
partiram”, diz Ester Cardoso, com alguma saudade. E para que este
silêncio sublinhasse a alma portuguesa, Sandra pisou o palco para nos deliciar
com a voz do fado. Entre outros temas bem interpretados, "De rosa ao peito
na roda" finalizou esta primeira parte do evento para dar lugar a outras
tradições.
O presidente do rancho, António Branquinho,
dedicou alguns momentos para agradecimentos e troca de lembranças das mãos das
entidades presentes.
Falar de tradições, nada melhor que um
grupo de Folclore (saber tradicional de um povo) para testemunhar o modo de
vida da região. As coreografias e cantigas de outrora, assim como os trajes,
constituem o reportório local e representam as actividades agrícolas da época.
Lembram as vessadas, as cavas, a terra removida com arados de pau e com a ajuda
de bois. Entre as modinhas do Rancho, algo de singular as destaca, a Chula de
Paus, considerada uma das mais belas danças folclóricas do país.
Durante anos, a sociedade quase fez
desaparecer a história popular. Foi por insistência e afirmação que a
etnografia deixou de ser considerada a ignorância popular para se tornar no
grande pilar da formação cultural de um povo.
Graças ao Romantismo, e principalmente aos
intelectuais de renome, conseguiu-se consciencializar a mentalidade, para a
conservação do folclore como espelho da alma nacional. Como um grito de alerta,
as obras artísticas destacavam elementos folclóricos de forma a afirmar o
sentimento de identidade nacionalista. S. Pedro de Paus também segue esta linha
preservando as suas memórias dando voz, música e movimento aos seus
antepassados para herança das futuras gerações.
Para descrever esta tarde repleta de cor,
alegria, nada melhor que umas imagens das brilhantes actuações destes Grupos de
excelência que se juntaram para partilhar a própria identidade.
Grupo
Folclórico e etnográfico de S. Pedro de Paus (Resende),
Grupo
de Danças e cantares de Vermil (Guimarães),
Tradicional Songs and Dances Ensamble Kuzelovjan
(República Checa),
Rancho
Folclórico de Nogueira (Lousada),
Grupo
Folclórico de S. Martinho do campo (Santo Tirso),
Folklorni
Ansambl “Koprivnica” (Croácia).
S. pedro de Paus tem trajes pobres, tem
lenços desbotados, tem pés descalços para poupar a vida das socas, mas também
tem sorrisos no rosto abrasido pelo trabalho. E como “o hábito faz o monge”, o
Grupo Etnográfico de S. Pedro de Paus possui guarda-roupa variada para cada
profissão. As indumentárias do lavrador, vindimadeiras, feirantes, malhadores,
entre outros, contracenam com o melhorado traje típico de domingo. Na roda,
soltam-se as vozes do cancioneiro acompanhadas por vários instrumentos. Com a
alegria da azáfama do dia, descalças, fazem rodopiar as simples saias contando
a difícil história de vida, mas com muita identidade e dignidade relembrando um
passado duro, mas repleto de alegria e saudade!
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