Barrô no “querido mês de Agosto”
Texto e fotos: Lurdes Pereira
Chegou o 15 de Agosto, chegou o Dia das Sete Senhoras. Foguetes estouram no ar. De dia, em honra do Santo, à noite em forma de arraial. Na fronteira da Região Demarcada do Douro, Barrô (Resende) cumpre a tradição em honra da padroeira, Santa Maria de Barrô, que sucedeu, a Virgem da Assunção.
Depois de hasteadas as bandeiras, a manhã de domingo deu início à festa com uma cerimónia religiosa aos emigrantes. Como de costume, a véspera do grande dia é dedicado à recolha dos andores até à igreja Matriz. À noite houve música e, claro, a partida de fogo-de-artifício.
Barrô adormeceu já sem estrelas no céu, mas ergueu-se pela madrugada para as Festas religiosas em honra da Padroeira, a Santa Missa.
Entre os vários andores dos Santos desta freguesia, a aldeia possui uma singularidade que se cumpre ano após ano. Desde o tempo em que o rio Douro era navegado pelos barcos rabelos, a Nossa Senhora da Boa Viagem, protectora dos marinheiros, nunca faltou à festa. A curva dos Piares era uma zona difícil de ultrapassar sem tragédia. As embarcações viravam e os marinheiros morriam afogados. Conta a lenda que certo dia, em que o fluxo do rio aumentou consideravelmente, os marinheiros viram a imagem da Nossa Senhora a boiar na água. Logo a baptizaram de Nossa Senhora da Boa Viagem. Em homenagem, e para que continuasse a ser protectora dos marinheiros, os habitantes de Barrô fizeram-lhe, no alto daquele penhasco, um nicho para lugar de morada da Santa. Por este motivo, todos os anos a Senhora da Boa Viagem está presente na Majestosa Procissão de Triunfo da Padroeira de Barrô, e os seus fiéis continuam a agradecer a protecção que Ela ofereceu ao longo dos tempos.
Barrô não esquece as tradições portuguesas.
As colchas à janela, em tons carmesins ou brancas com brilhos de madrepérola, cumprem
o ritual da devoção e adoração à passagem da Padroeira acompanhada por todos os
Santos nos seus andores decorados de maravilhosos arranjos de flores. Abrigado
pelo tradicional pálio de tecido dourado, o sacerdote transporta, entre as mãos,
a Sagrada Custódia adornada com seu esplendor, um símbolo de culto da
Eucaristia, desde o séc. XIII. Graças à dedicação que imprime na freguesia, o
Sr. Padre Vasco ofereceu, aos fiéis, uma festa religiosa de excelência.
Barrô é uma aldeia dos limites do
concelho. Já foi mais povoada. Mas nesta quadra, os filhos da diáspora voltam à
terra para matar a saudade e agradecer à Padroeira a oportunidade de uma vida
melhor. O encerramento das festividades contou com a actuação das duas bandas,
a Nova de S. Cipriano e a Portela de Vila Real, uma actuação tão majestosa
quanto a fé que os “Olhares da Serra” depositam na Santa Maria de Barrô neste “querido
mês de Agosto”.
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