Castro Daire
Última Rota da Transumância
Fotografia de Lurdes Pereira
Junho de 2019
Preciosa
Quem lê sobre a Serra de Montemuro, “a mais desconhecida Serra de Portugal”, facilmente descobre que as cabras e ovelhas traziam os chifres enfeitados com fitas e pompons. Por tradição, os habitantes das aldeias iam a Castro Daire esperar a chegada dos rebanhos da Serra da Estrela e receber os pastores com pão e vinho. A abundância de enfeites e a música chocalhante tornavam este momento o mais esperado do ano.
Texto e fotos de
Lurdes Pereira
Na “mais
desconhecida Serra de Portugal”, assim em tempos, Amorim Girão definiu
Montemuro, as capas de burel ainda escondem os rostos humildes das sempre orgulhosas
mulheres serranas e as lendas permanecem vivas para explicar factos da sua história.
Não se sabe ao certo quando terá
sido o início da necessidade da migração temporária de gado, mas sabemos que o
ano de 1999, uma viagem de ovinos, desde a Serra da Estrela até à Serra de
Montemuro, marcou “A Última Rota da Transumância”.
Não escapou aos olhares atentos
cujo trocadilho de palavras transformam o rude suor em marcas de poesia, assim
declamou Aurora Simões de Matos:
(…) E num dia de Verão
Chegam rebanhos da Estrela
A serra torna-se então
Dentre as serras a mais bela
Toda coberta de lã
Outra neve… outra aguarela (…)
Reza a história que as deslocações
de gado se verificam desde os tempos mais remotos, podendo até recuar à fase
nómada do homem. Esta iniciativa tinha como objectivo assegurar a alimentação
do gado quando os pastos escasseavam nas regiões autóctones. Durante o Verão calcavam
caminhos montanhosos comandados por um Maioral, numa rota inalterada desde os
tempos que não há memória.
Economicamente, a procura de lã fez
do século XVIII os anos dourados da pastorícia. Porém, e porque tudo está em
constante mudança, o século XX trouxe profundas alterações que se refletiram no
trânsito social, numa profunda diáspora que fez conjugar o verbo abandonar. A
opção de um mundo melhor, mais industrializado em detrimento do mundo rural
provocou um abandono daqueles lugares tão esquecidos onde só o olhar turista,
que nunca sentiu as dificuldades locais do dia-a-dia, poderá nele encontrar o
seu derradeiro encanto da paisagem, na musicalidade do silêncio e no registo da
imagem.
Sensíveis às intensas
dificuldades de outrora, a tradição voltou a Montemuro dinamizada com a
recriação da Última Rota da Transumância. Eram umas 2000 cabeças de gado a
relembrar a história dos antepassados com a deslocação de rebanhos, seus cães
de olhar sempre atento e seus pastores a acompanhar. A primeira fase teve início
em terras de Castro Daire até à aldeia de Vilar, local de paragem para carregar
baterias e descansar um pouco da caminhada e do calor que se fazia sentir.
Retomado o
percurso, lá seguiram para Campo Bemfeito, uma aldeia típica de montanha da Serra
do Montemuro, classificada como Aldeia de Portugal, pelo seu valioso património
cultural.
Neste momento tão
único quanto mágico, tão efémero quanto inesquecível degustam-se os sabores da
ruralidade. De um olhar a preto e branco a necessidade transformou-se numa
tradição tão autêntica para perpectuar a memória de uma cultura milenar. E se
no passado o objectivo era a procura de pastos fartos, o presente reciclou
esses pastos em saberes, em valores da história da vida do pastor oferecendo
alicerces do conhecimento para projectar no futuro das novas gerações.
Fanny
Mimosa
Synda
Ismena
Leta
Graciosa
Clotilde
Freca
Cremilde
Clotilde
Antígona
Creonte
Fiona
Narciso
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