segunda-feira, 1 de julho de 2019

Castro Daire - Transumância_2019

Castro Daire

Última Rota da Transumância

Fotografia de Lurdes Pereira
Junho de 2019

Preciosa



Quem lê sobre a Serra de Montemuro, “a mais desconhecida Serra de Portugal”, facilmente descobre que as cabras e ovelhas traziam os chifres enfeitados com fitas e pompons. Por tradição, os habitantes das aldeias iam a Castro Daire esperar a chegada dos rebanhos da Serra da Estrela e receber os pastores com pão e vinho. A abundância de enfeites e a música chocalhante tornavam este momento o mais esperado do ano.


Texto e fotos de Lurdes Pereira

Na “mais desconhecida Serra de Portugal”, assim em tempos, Amorim Girão definiu Montemuro, as capas de burel ainda escondem os rostos humildes das sempre orgulhosas mulheres serranas e as lendas permanecem vivas para explicar factos da sua história.
Não se sabe ao certo quando terá sido o início da necessidade da migração temporária de gado, mas sabemos que o ano de 1999, uma viagem de ovinos, desde a Serra da Estrela até à Serra de Montemuro, marcou “A Última Rota da Transumância”.

Não escapou aos olhares atentos cujo trocadilho de palavras transformam o rude suor em marcas de poesia, assim declamou Aurora Simões de Matos:
(…) E num dia de Verão
Chegam rebanhos da Estrela
A serra torna-se então
Dentre as serras a mais bela
Toda coberta de lã
Outra neve… outra aguarela (…)
Reza a história que as deslocações de gado se verificam desde os tempos mais remotos, podendo até recuar à fase nómada do homem. Esta iniciativa tinha como objectivo assegurar a alimentação do gado quando os pastos escasseavam nas regiões autóctones. Durante o Verão calcavam caminhos montanhosos comandados por um Maioral, numa rota inalterada desde os tempos que não há memória.

Economicamente, a procura de lã fez do século XVIII os anos dourados da pastorícia. Porém, e porque tudo está em constante mudança, o século XX trouxe profundas alterações que se refletiram no trânsito social, numa profunda diáspora que fez conjugar o verbo abandonar. A opção de um mundo melhor, mais industrializado em detrimento do mundo rural provocou um abandono daqueles lugares tão esquecidos onde só o olhar turista, que nunca sentiu as dificuldades locais do dia-a-dia, poderá nele encontrar o seu derradeiro encanto da paisagem, na musicalidade do silêncio e no registo da imagem.

Sensíveis às intensas dificuldades de outrora, a tradição voltou a Montemuro dinamizada com a recriação da Última Rota da Transumância. Eram umas 2000 cabeças de gado a relembrar a história dos antepassados com a deslocação de rebanhos, seus cães de olhar sempre atento e seus pastores a acompanhar. A primeira fase teve início em terras de Castro Daire até à aldeia de Vilar, local de paragem para carregar baterias e descansar um pouco da caminhada e do calor que se fazia sentir.
Retomado o percurso, lá seguiram para Campo Bemfeito, uma aldeia típica de montanha da Serra do Montemuro, classificada como Aldeia de Portugal, pelo seu valioso património cultural.  


Neste momento tão único quanto mágico, tão efémero quanto inesquecível degustam-se os sabores da ruralidade. De um olhar a preto e branco a necessidade transformou-se numa tradição tão autêntica para perpectuar a memória de uma cultura milenar. E se no passado o objectivo era a procura de pastos fartos, o presente reciclou esses pastos em saberes, em valores da história da vida do pastor oferecendo alicerces do conhecimento para projectar no futuro das novas gerações. 










Fanny

Mimosa




Synda


Ismena


Leta



Graciosa



Clotilde

Freca









Cremilde

Clotilde














Antígona



Creonte







Fiona

















Narciso



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