A coroa da laranja
Texto e fotos: Lurdes Pereira
Março de 2018
Os locais da Via-Sacra já estão referenciados. As cruzes e as imagens Sacras, tapadas durante a Quaresma com mantos roxos, soltam a angústia do luto, da tristeza, da dor e da penitência. É tempo de Páscoa, é tempo de Paixão, Morte e Ressureição. E a Ressurreição vive esta duplicidade de mãos dadas com o Renascer que a Primavera nos contempla.
Entre Barrô, (Resende) e Penajóia, (Lamego) o Domingo de Páscoa é muito semelhante nas suas tradições religiosas, familiares e gastronómicas. Têm em comum o mesmo momento crucial – o Compasso, uma breve visita que o pároco faz a todas as casas da paróquia levando a Boa Nova da Ressurreição.
Depois da missa o sino toca assinalando o início das visitas. Os mordomos vestidos a rigor, água benta e Cristo na Cruz cujos braços oferecem, quando a Páscoa é mais alta, a novidade das primeiras cerejas do concelho agendando, assim, o Renascer de um novo ciclo.
Porém, há na Penajóia uma particularidade que considero quase singular - A laranja coroada com o folar do padre. Manda esta tradição que no dia da visita seja colhida a maior laranja de umbigo da laranjeira de cada quintal. O fruto é colocado num prato em cima da mesa já decorada com ramos de alecrim. O folar do Padre era a moeda com que o anfitrião embelezava a laranja. Com o desenrolar dos tempos e da economia de cada lar, o valor da moeda transforma-se em papel.
O Compasso entra, a Cruz é beijada, a oferta levantada e o homem do saco recolhe a laranja. Para além de ser uma tradição, não se sabe ao certo o simbolismo da laranja, mas pode estar relacionada com o único fruto que o Inverno nos oferece em abundância. E tal como se diz em alguns lugares, “as laranjas só são boas depois de abençoadas”.
A tradição continua mas já não há o homem para carregar o saco das laranjas. Assim, a maior laranja do quintal fica, ano após ano, no prato da mesa pascal.
Uma Santa Páscoa para todos!
Lurdes Pereira
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