terça-feira, 27 de dezembro de 2016

História "A Arte Photographica"

… o lugar de destaque ocupado por esta publicação na históriada fotografia em Portugal

  (…) “O Arte Photographica inspira-se na ousadia empreendedora da revista A Arte Photographica (1884-1885), exemplo pioneiro da paixão pelos assuntos estéticos e técnicos da fotografia no Portugal de Oitocentos”.
http://artephotographica.blogspot.pt/2014/06/conversa-com.html14/06/conversa-com.html

                                         
                               

Agosto de 1907. Capa da revista A Arte Photográphica, nº 26
com o título “Serões. Edição com concurso photográphico.
Periodicos/Seroes/1907/N026/N026_item1/P50.html


A Arte Photographica, (1884-1885) periódico de fotografia em Portugal, foi fundada por Carlos Relvas e Ildefonso Correia e foi propriedade da Photographia Moderna de Leopoldo Cirne[i], no Porto. Embora dedicada a amadores, a revista vestia-se de um evento moderno partilhado por muitas publicações da época[ii].
Ao longo de 23 números, foram lançadas duas edições em que uma continha fotografias reproduzidas pela técnica da fotipia e outra com originais colados em vários processos, desde a gelatino-brumeto à photoglypia. Cada número trazia um «specimens» legendado por autores, fotógrafos em voga na época[iii].
A Arte Photográphica foi uma Revista Mensal dos Progressos da Photographiae das Artes Correlativas e abrangia áreas de interesses relacionados com a fotografia no final do século XIX.[iv] Cada secção da revista consistia no Formulario[v]; Lições de chimica photographica elementar; Apontamentos para a fotografia instantânea[vi]; e uma secção Specimens, espaço reservado a uma alusão à fotografia impressa na capa[vii].
Relacionando as matérias, concluímos que o denominador da revista era fornecer informações técnicas e artísticas para os leitores no que diz respeito aos avanços da arte.
Divulgou o “célebre texto” de Robinson que criticava a fotografia como uma técnica e não uma obra de arte, sublinhando a necessidade de conhecimento da arte e educação do gosto para a realização de um click. Perante as divergências que se faziam sentir, a revista difundia textos sobre a polémica com o objectivo de elevar a fotografia ao mundo das artes. A Arte Photográphica,não é uma revista excecional, mas antes exemplar(…) além da observação do progresso técnico(… )é o de render-se ao encanto dessa elegante publicação[viii]. Ela é um estímulo à imaginação.
A ideia de uma revista ligada aos assuntos de estética e técnica fotográfica parece que se tornou numa rampa de lançamento para futuros projectos. Tornou-se num excelente veículo a «imitar» de forma cada vez mais ousada, poderosa permitindo ideias cada vez mais modernas que vão incentivar as várias elites na prática e estudo da fotografia como lazer e arte. Multiplicam-se as publicações de divulgação fotográfica e os manuais de iniciação[ix]. A fotografia tem agora uma utilização muito mais vasta, quer no domínio público quer no domínio privado e amador[x].
Em 1885 publica-se o Álbum em 4 volumes de Cunha Moraes “A África Ocidental”[xi].
A 1886 surge a ideia da Exposição Internacional de Fotografia[xii] noticiada pela dita revista, como “um projecto ambicioso mesmo para a época[xiii]. O Palácio de Cristal[xiv] serviu de palco ao evento de photographia Moderna. Contudo, só abre as portas depois da queda da revista não lhe sendo, por isso, entregue a merecida dádiva do rescaldo da exposição.
No mesmo ano surge a ideia da Fundação de uma Academia que “conglobasse num só esforço, de todos os amadores, para o progresso da arte photográphica em Portugal[xv]. Era necessário reforçar a ideia de que muitas vezes são os amadores que oferecem novo impulso para e evolução da arte e também tomar consciência de seguir as pegadas estrangeiras. As academias permitiam um difusão entre fronteiras abrindo alas ao progresso. No final do século, todos os jornais têm páginas reservadas aos fotógrafos e ao que de melhor fotografam por cá.
Os aparelhos simplificam-se,[xvi] as edições vulgarizam-se, publicam-se manuais e surge um outro evento, a Exposição de Fotografia de Amadores, em Lisboa.
Enquanto a evolução prossegue o seu ritmo, o início do século vem retomar as questões da fotografia como arte. Paulo Plantier recebe o título de «Heresia da Photographia Moderna» no início do século XX com retratos de “flagrantes”.
E o CPF[xvii]? Terá surgido no seguimento das antigas ideias de proteger e divulgar a fotografia como arte, e julgo que funcionará como museu/espólio de uma arte que agrada qualquer um de nós.
A Arte Photographica, pioneira nos assuntos de arte da fotografia[xviii] foi, segundo o CPF, “considerada internacionalmente uma revista de rara sofisticação e qualidade”. 117 anos depois da primeira publicação, e no âmbito da Porto 2001,[xix] foi reeditada em colaboração com o CPF[xx].
A duração da revista foi modesta contudo, ocupa lugar de destaque tornando-se uma referência para a fotografia portuguesa, sinónimo de modernidade e vincada no avanço da técnica até culminar na obsolescência[xxi].

Bibliografia:
  • SENA, António, Uma História de Fotografia, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1991.

Webgrafia:
1.       BARROCAS, António José de Brito Costa, “A arte da luz dita revistas e boletins teoria e prática da fotografia em Portugal (1880-1900)” Universidade de lisboa, Faculdade de Belas Artes, visível em <URL>
Consultado em 08-12-2014 pp. 78-82
3.       CPF, Centro Português de Fotografia, visível em: <URL> http://www.cpf.pt/, (consultado a 12-12-2014)
4.       MICHELON, Francisca Ferreira, “O moderno e o obsoleto da Arte Photographica, visível em: <URL> file:///C:/Users/pc/Downloads/1153-3566-3-PB%20(2).pdf (consultado a 10-12-2014)

5.       “Revista Arte Photographicareeditada 117 anos depois, pela Porto 2001”, visível em <URL>  http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=9609, (consultado em 10-12-2014)


Notas de Fim





[i] No cargo da direcção Literária.

[ii] Uma boa publicação do séc. XIX foi a “Ilustração Portuguesa (1884-1890); O jornal diário lisboeta “Diário Ilustrado” (1872-1911) E os diários “Comércio o Porto”, “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”.

[iii] Nomes como Margarida Relvas, Eduardo Alves, Rebello Valente ou Cunha Morais…
[iv] Várias áreas de interesse como a Informação técnica e prática sobre máquinas fotográficas, acessórios, procedimentos químicos, materiais de impressão e gravura; Informação teórica através de apresentação de textos pedagógicos e sobre estética; Informação geral inerente à fotografia seja de carácter nacional ou estrangeiro; Publicação de correspondência.
[v] Descreviam os processos que estavam em voga, nomeadamente a photoglyptia, phototypia, negativos em gelatina, chromotypia e stannotypia.
[vi] Como a crónica de um fotógrafo amador explicando o modo de obter as melhores fotografias instantâneas
[vii] Descrição do equipamento e material utilizado na fotografia, assim como o processo de impressão.
[viii] Michelon, p. 30 in “O moderno e o obsoleto na Arte Photographica”.
[ix] Prova do alargamento do acesso às técnicas fotográficas e do interesse de um número cada vez maior de adeptos.
[x] Os progressos tecnológicos permitiam a impressão directa da fotografia, sem a mediação da gravura. No domínio privado, a simplificação tecnológica e dos processos químicos de revelação pluralizam o uso.
[xi] Editado por David Corazzi. Sendo a publicação mais interessante do século XIX.
[xii] Este projecto tem como objectivo difundir e partilhar saberes, experiências e resultados das experiências de cada participante. Nesta exposição participam fotógrafos profissionais e amadores nacionais e estrangeiros.
[xiii] Sena p.35 “Uma História de Fotografia em Portugal”
[xiv] Na cidade do Porto, o imóvel que deu o nome ao Palácio já não existe. No entanto ele tivera sido construído para efeitos culturais.
[xv] Sena p.43; Até à data não existia nenhuma instituição do género.
[xvi] Altura em que aparece a 1ª Kodak e a Pocket e principalmente os filmes em película, que vêem nascer uma nova onda de adeptos.
[xvii] O Centro Português de Fotografia (C.P.F.), na antiga Cadeia da Relação, no Porto, existe desde 1997 criado pelo então Ministério da Cultura, Ministro Manuel M. Carrilho, no sentido de assegurar uma política nacional para a fotografia. Actualmente tem como missão salvaguardar, valorizar e promover o património fotográfico.
[xviii] As três principais publicações periódicas portuguesas dedicadas à fotografia e publicadas no século XIX foram A Arte Photográphica (1884 a 1885), Boletim da Academia Portuguesa de Amadores Photograficos (1886) e o Boletim do Grémio Portuguez d`Amadores Photographicos (1890 a 1892) que se publica ao longo de três anos.
[xix] Porto, Capital Europeia da Cultura. (Criação de Pontes para a Cultura)
[xx] Considerada como memória, reuniu todos os números publicados que, numa tentativa de aproximação com o real, as gravuras foram impressas e coladas no texto.
[xxi] Michelon, pp. 43-44

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